Se observarmos a natureza, por exemplo, notaremos que nosso cãozinho de estimação faz muita graça para chamar a atenção. As flores utilizam seus coloridos para atrair ou afastar insetos. As árvores utilizam o movimento de suas folhas ao vento para serem mais ou menos notadas. Os peixes do mar usam suas caudas e colorido para se esconderem ou para serem admirados.
Os países, por exemplo, fazem guerras por honra, para defender interesses, os sindicatos fazem negociações esperando que os donos de empresas tratem dignamente os trabalhadores, as pessoas lutam por condições melhores de vida, sejam trabalhando, estudando, ou os dois, para se sentirem aceitos e prestigiados e ainda, encontrar satisfação através do trabalho.
De fato a sociologia apresenta muitos sinônimos para designar diferentes aspectos de respeito: status, prestigio, reconhecimento, honra, dignidade. São muitas definições embora sejam simples abstrações, mas estas sensações, estão presentes em nosso quotidiano.
E assim caminha nossa vida, nesse jogo que não é lido, nem visto, por exemplo, na rua, pelo contato do olhar ou da linguagem do corpo, as pessoas jogam o jogo do “eu não lhe farei mal”, ou do “eu gostei de você”, ou do “você tem alguma coisa que me interessa”. Quando as pessoas jogam bem esses instrumentos sociais elas entram em contato com o desconhecido, se envolvem emocionalmente com os acontecimentos impessoais e até se engajam em instituições.
Porém, a relação entre esses sentimentos é muito complicada. Vejamos por exemplo o caso de status e prestígio. Uma pessoa rica e corrupta pode perder seu prestígio devido à corrupção, mas na maioria das vezes conserva seu status e os privilégios legais, devido a sua fortuna.
Ou ainda, o prestígio profissional nos mostra que os artesãos e artistas que fazem de suas obras, trabalhos úteis e independentes, têm um prestígio diferente dos de Diretores de grandes empresas que são rodeados por verdadeiros aparatos hierárquicos e estratégicos e na verdade não têm um dom semelhante ao do artesão ou artista. Compreendemos então que o prestigio pode se mudar de pessoas a objetos: exemplo um Porche ou uma BMW é um bem que por si só indica prestígio, não importa quem seja seu proprietário.
Seria então prestígio um sinônimo suficiente para expressar respeito? Entendo que não. O médico por exemplo, tem um trabalho de mais prestígio que a secretária – que tem também um trabalho socialmente útil e do qual até os médicos dependem, só que médico inspira mais respeito que a secretária que por sua vez inspira mais respeito que outras profissionais.
Percebemos então que falta alguma coisa para unir o sentimento de importância ou necessidade do exercício das profissões, assim me vem à palavra reconhecimento, embora ela não seja tão abrangente para uma tomada de consciência da necessidade mútua de reconhecimento, que também pode significar o respeito pelas necessidades daqueles que não têm o mesmo ponto de vista que nós, de maneira que seus interesses contrariam nossos interesses...
Dessa forma chegamos à palavra honra, que tem um “quê” de antigo, fora de moda, mas é fundamental para a vida social. A honra antes de tudo é um código de conduta que nos obriga a determinadas atitudes como por exemplo, quando se dirige uma escola infantil, ou de jovens, ou uma casa para idosos, uma empresa e mesmo um sindicato, a seriedade, as responsabilidades e cuidados, que cada caso requer.
A honra marca então um limite pouco visível, apagado da fronteira das distancias sociais. Ou seja, segundo Pierre Bourdieu, “sempre que uma pessoa exerce um cargo ou uma profissão reflete a imagem que tem de si idêntica à imagem que os outros fazem dele, porque sabe que os outros vêm nele aquilo que esperam dele e o que querem que ele seja”. Pelo menos deveria ser sempre assim, mas os exemplos de exceção à regra estão pelo mundo.
Esse senso comum é proveniente da dignidade, da fé (seja ela qual for), da comunicação entre os seres humanos e das artes e suas expressões e também do trabalho. É o valor que o indivíduo dá ao seu trabalho que define a ética, a honra do cidadão que se respeita. Por este motivo é que a dignidade do trabalho tornou-se um valor universal.
Segundo alguns antropólogos e historiadores o trabalhador tende a ser o sujeito social universal, quando a sociedade compreende que ele trabalha e se sustenta. Sobre as costas de cada adulto – que muitas vezes não se dá conta – há um fardo de autojustificação bem pesado. Pois segundo Max Weber, em uma análise minuciosa, deduz que a ética do trabalho é, segundo ele a maneira que o homem ou a mulher tem de se testar e é assim que o indivíduo prova seu valor.
Para ele, as provas oferecidas, sejam elas econômicas, de lazer, de relacionamento, funcionam como uma espécie de autocontrole e saúde moral para o trabalho.
Portanto reconhecimento, respeito, dignidade, status, prestígio, honra, ética, são todos valores inerentes ao ser humano no trabalho, enquanto a maneira de praticar esses valores difere de cultura para cultura, de um sistema, quer seja político ou econômico, para outro.
Pelos valores aqui analisados podemos compreender melhor nossa profissão. A Secretária está em um lugar de destaque na empresa – ao lado da chefia, ou ao lado do poder – depende do olho de quem vê. Só esta referência já funciona para muitos olhares, como motivo de reconhecimento, dignidade, respeito, status, honra.
Além da ética, que propositalmente separo, mas pertence à mesma escala de valores, que também para muitos olhares contribui para o reconhecimento a dignidade, o status, o prestígio, pois aos olhos de quem vê, “quantas informações esta secretária sabe que eu não sei?” (na verdade eu gostaria de saber como ela...).
Falta ainda percebermos que esses valores são mútuos, o que quer dizer que servem para todos os seres humanos. Se são mútuos, se as secretárias estão ligadas à estrutura das organizações, se os níveis hierárquicos foram reduzidos nos últimos anos, é natural que o reconhecimento ou o respeito profissional se tornem subjetivos e raros quando não existe a noção de conjunto que o sindicato, que é a associação de classe, torna concreta aos olhos do mundo.
Até porque no mundo capitalista atual existe uma grande ambigüidade, enquanto a interpretação é “Respeite os outros”, as circunstâncias econômicas e sociais transforma esse desejo de maneira subjetiva, governada pela disposição de obedecer e da forma como poderemos responder.
Desta forma o desenvolvimento do respeito pessoal, que é onde tudo começa pode ocorrer na sociedade de três formas: pelo desenvolvimento individual dos seus talentos e competências; pelo cuidado consigo mesmo no sentido de equilibrar seus desejos e poderes; e o terceiro consiste enfim em auxiliar os outros. Esta é a fonte de auto estima que se caracteriza como a mais universal, atemporal e profunda.
Nada toca mais o ser humano do que o indivíduo ou organização que toma atitudes para fortalecer a coletividade. Assim é o sindicato, assim deveriam ser a maioria dos profissionais, não só os de secretariado.
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